MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS É PREMIADO NO 10º CONCURSO MÁRIO QUINTANA DE LITERATURA E FOTOGRAFIA

28/10/2014 09:14

O Acadêmico Delmar Bertuol foi agraciado na última sexta, dia 24, com o troféu de 3º lugar na categoria Crônica Regional no 10º Concurso Mário Quintana de Literatura e Fotografia, promovido pelo Sintrajufe. A solenidade ocorreu no Centro de Cultural Erico Veríssimo. As crônicas e contos (regionais e nacionais) premiados farão parte do livro Lavra Palavra, a ser lançado com sessão de autógrafos no dia 07 de novembro, às 20 horas, no Memorial do Rio Grande do Sul, na Feira do Livro de Porto Alegre. O escritor desde já convida a todos para que se façam presentes. Abaixo, a crônica premiada:

 

Doce Encanto

Eu poderia dizer que sua pela era cor de algodão. Ficaria esteticamente poético. Mas a bem da verdade, nenhuma pele humana é tão branca como o algodão. Nem a dos albinos. Sua derme era de um bege bem fraquinho. Mas como dizer poeticamente que a pele era bege. Não. Bege é cor de carro, de fachada e de desestimuladoras calcinhas.

A cor da pele dela era, como direi?, cor de leite condensado. Ah sim, a pele dera era dessa tonalidade, um saboroso e calórico leite condensado. E em lata, cujo sabor é mais pecaminoso que os tais de caixinha. E tinha o pescoço tão apetitoso quanto um chocolate branco. Uma mistura de leite condensado e chocolate derruba até mesmo as mais rigorosas dietas.

Sua pele cor de irresistível creme era contrastada com um cabelo preto. Muito preto e liso. Suas mechas terminavam justamente no herético pescoço. Se tivesse que descrevê-la burocraticamente, eis o relatório:

Mulher. 21 anos, mais ou menos. Branca. Pernas indiferentemente finas, mas encantadoramente rijas, digo, pernas finas. Nádegas despretensiosas, mas hipnotizantes tais quais frescos sonhos de padaria, digo, não reparei na retaguarda, Excelência. Lindos olhos verdes, digo, olhos verdes. Olhar perdidamente maroto, digo, olhar de Capitu, digo, melhor não dizer nada acerca de tão subjetivo detalhe, Excelência. Cabelos tão negros como a terra fértil que alimenta frutíferas goiabeiras, digo, cabelos pretos, na altura do vampiresco pescoço, digo, do pescoço. Trajes informais e despreocupados. Macias mãos, que remetem à rejuvenescedora alva da aurora, com dedos igualmente sensíveis cujas unhas estavam infantilmente pintadas de rubro-leve, digo, duas mãos. 5 dedos em cada uma. Unhas esmaltadas em vermelho. Seios parcialmente graduados, cujos tamanhos lembram duas doces laranjas-do-céu, digo, seios medianos, Excelência. Sem mais, subscrevo-me.

Eu segui. Ela ficou. Sentada. Pescoço nu. Olhando ao redor. Mas, não mirando em mim. Ela estava para mim, assim como um doce na vitrine da confeitaria está para um moleque faminto de rua: inacessível.

Lá se foi minha dieta. Hoje ei de fazer um creme de leite condensado. Depois chocolate branco. Há tentações que são mesmo irresistíveis.